Doença de ALZHEIMER na fase grave
Tratamento e Segurança
Dra. Márcia Lorena Fagundes Chaves
Professora Adjunta de Neurologia do Departamento de Medicina Interna da FAMED/UFRGS
Chefe do Serviço de Neurologia do HCPA
CRM/RS 11.060
Demência afeta em torno de 24 milhões de pessoas em todo mundo1, sendo a doença de Alzheimer (DA) a causa mais comum (60%), seguida por demência vascular (20%), demência de corpos de Lewy (15%) e causas mais raras e reversíveis (5%)2. DA é uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal, que se manifesta por deterioração cognitiva, especialmente da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária (capacidade funcional), surgimento de uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e alterações comportamentais3.
Cada vez mais a doença de Alzheimer está entre as causas de óbito mais frequentes, chegando a representar 3% de todos os óbitos na Inglaterra4. Em 2006, nos EUA, era a sétima causa de morte em todas as idades e a quinta naqueles acima dos 65 anos de idade5. No Brasil, segundo dados do Datasus, o crescimento dos óbitos atribuídos à DA nos últimos 10 anos ultrapassou 500%. O custo com o cuidado dos pacientes com demência alcança cifras de mais de 100 bilhões de dólares nos EUA, excedendo os custos com doenças mais comuns como diabetes e artrite6. O custo dos cuidados com alguém portador de DA é amplificado nos estágios mais graves da doença.
Pacientes com doença de Alzheimer desenvolvem demência grave e como resultado tornam-se ainda mais comprometidos do ponto de vista cognitivo. À medida que a saúde deteriora, os pacientes tornam-se menos capazes de se comunicar e apresentam menos mobilidade, desenvolvem apraxia, agnosia e sintomas neuropsiquiátricos, necessitando de maiores quantidades de cuidados de enfermagem. Em torno de 20% dos pacientes com DA apresentam demência grave7. A fase grave da doença pode ser reconhecida quando o paciente necessita de cuidado e assistência em tempo integral com as atividades de vida diária, como banho, vestir-se e toalete. Objetivamente falando, os pacientes com DA apresentam de forma característica escores inferiores a 10 no Miniexame do Estado Mental8. O tempo médio de sobrevida a partir do diagnóstico é de 6 anos (variação 1 a 16 anos), sendo que aproximadamente um terço do tempo é despendido na fase grave. O Canadian Study of Health and Aging observou que 50% dos pacientes com DA já estavam nas fases moderadas a graves da doença no momento do diagnóstico9. Em instituições, em torno de 90% dos residentes apresentam demência moderada a grave9.
A maioria das diretrizes clínicas para doença de Alzheimer enfoca as fases leve a moderada. Instrumentos de avaliação e tratamentos que são aplicáveis a fases mais iniciais da doença não são úteis na fase grave. Diretrizes disponíveis não avaliam estudos de terapias não farmacológicas e farmacológicas para melhorar a função cognitiva empregada nessa fase. Devido à prevalência da DA grave, o sofrimento dos pacientes e seus familiares, e a carga para a sociedade, há necessidade de mais recursos para essa fase da doença.
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Leitura recomendada
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